Quando fui a Tânger: Fevereiro e Março de 2023
Quanto tempo: 3 dias e 3 dias
Entre as principais cidades do Marrocos, Tânger é a que fica mais próxima da Europa. De fácil acesso, está a um rápido trajeto de barco da Espanha. Fica localizada exatamente no encontro das águas do Oceano Atlântico com o Mar Mediterrâneo, no início do estreito de Gibraltar. É a porta de entrada da África do Norte, não só geograficamente, mas também culturalmente, com uma mistura de influências principalmente espanholas, mas também portuguesas e francesas, adaptadas ao estilo marroquino. Historicamente, foi um local disputado por diferentes povos, o que moldou o seu desenvolvimento até os dias atuais. Tânger não é a cidade mais turística do país, mas como todos esses elementos, tem motivos suficientes para atrair o turismo.
Estive em Tânger duas vezes em 2023, ambas a trabalho, mas aproveitei o tempo livre para visitar as principais atrações. Um dia inteiro é suficiente para conhecer a Medina histórica e redondezas. Em dois dias é possível ir também aos pontos de interesse fora do centro, como as Grutas de Hércules, e/ou curtir uma praia no verão. Também é comum a partir de lá fazer o passeio até Chefchaouen, a “Cidade Azul”, seja um bate-volta no mesmo dia, ou dormir uma noite, que foi o que fizemos. Nessas viagens, meu roteiro também incluiu destinos como Rabat, Casablanca, Fez, Marrakech e o Deserto do Saara.
Para quem vai ao Marrocos pela primeira vez, Tânger é definitivamente um bom começo para entrar no mundo árabe e muçulmano sem ter um grande choque cultural. Para quem já viajou para outras cidades mais tradicionais do país, Tânger é uma boa oportunidade para ver um lugar diferente com um interessante mix de culturas entre o Ocidente e o Oriente.
O aeroporto internacional de Tânger, o Ibn Batouta, recebe voos de diversas cidades da Europa. Para ir até lá, peguei um avião saindo de Paris, por cerca de 30 euros cada trecho, de ida e depois o mesmo para a volta, rota que é operada por companhias low cost como Ryanair, Vueling e Transavia. Muita gente chega na cidade vindo da Europa de ferry, já que a Espanha fica bem perto. O trajeto de barco entre Tarifa e Tânger, distância de 33 km, dura apenas uma hora do mar, e existem várias opções de horários e empresas, com ticket em média entre 30 e 40 euros para cada trecho. Também há saídas de Algeciras, outra cidade espanhola no Mar Mediterrâneo.
Para quem já está no Marrocos ou pretende ir depois para algum outro lugar do país, Tânger também é bem conectada com as principais cidades turísticas pelas linhas de trem da ONCF ou de ônibus da CTM Bus. Para ir até Chefchaouen, pegamos um ônibus, por 70 dirham (6,50 euros), trajeto feito entre 2h30 e 3 horas, com parada em Tétouan. Na volta, a mesma coisa. Para ir até Rabat, a melhor opção foi ir de trem rápido, em 1h20, por 172 dirhams (17 euros). Já quando eu estava em Fez, fui de trem até Tânger, com troca em Kenitra, tempo total de 3h30, por 172 dirhams (17 euros). O Marrocos tem um eficiente sistema ferroviário, com trens novos e rápidos em alguns trajetos.
Dentro de Tânger, é possível ir para a maioria dos lugares de interesse a pé, principalmente nos arredores da Medina, mas também na avenida da praia e até na parte nova da cidade, onde fica a estação de trem de Tanger Ville. Para locais mais distantes, como as Cavernas de Hércules, por exemplo, usamos carros de aplicativo, o Careem, a versão do Uber em muitos países do Oriente Médio. A vantagem é que o preço já está definido antes e você evita maiores problemas com alguns taxistas querendo cobrar a mais. Também usei táxi algumas vezes. Lá existe o “petit taxi”, carro azul, táxi compartilhado, que outras pessoas podem entrar no trajeto, opção bem mais barata. E tem o “grand taxi”, carro branco, táxi normal, mais caro. Os preços de táxi do aeroporto até diversos pontos da cidade são tabelados, há uma placa com os valores no desembarque. Mas é importante sempre, em qualquer situação lá no Marrocos, deixar bem claro antes qual será o valor combinado ou falar para usar o taxímetro, pois tem muito motorista malandro querendo se aproveitar e dar golpe para ganhar dinheiro em cima dos turistas.
HOSPEDAGEM:
Para ficar mais perto das atrações históricas e da essência de Tânger, a melhor opção é se hospedar dentro da Medina ou bem próximo a ela. A avenida da praia principal de Tânger tem boas opções de hotel, também é uma boa localização, há mais movimento noturno por ali. Já a parte nova da cidade, onde fica a estação de trem, tem hotéis de rede maiores. Na minha primeira viagem à cidade, fiquei no Biarritz Hotel, na avenida da praia, a uns 500 metros da Medina. Valeu mesmo pela economia e por estar muito bem localizado, porque o hotel é bem simples, serviu só pra dormir. Paguei 30 euros cada noite em um quarto individual pequeno, com banheiro dentro. Na minha segunda vez em Tânger, ficamos no Dar Omar Khayam, bem perto da praia e a 800 metros da Medina. Uma hospedagem típica, no estilo de um riad tradicional marroquino, com área de jardim ao ar livre. Pagamos 52 euros por noite em um quarto duplo, com banheiro dentro e café da manhã incluso. Lugar simples também, mas bem melhor do que o outro hotel.
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O QUE FAZER:
Assim como em outras cidades turísticas do Marrocos, a Medina é o principal lugar para conhecer a essência de Tânger. É nesta parte antiga da cidade, cercada por muralhas, onde ficam as principais atrações históricas. A Medina de Tânger tem área bem menor do que as de Fez e Marrakech, por exemplo, e também é um pouco menos caótica. Outra diferença é que este labirinto de ruazinhas estreitas para pedestres fica localizado em um morro, então espere subidas e descidas na caminhada. Em meio a casas predominantemente da cor branca, estão várias lojinhas que vendem de tudo. E seja lá o que você for comprar, de souvenirs até roupas, joias ou especiarias, lembre-se de pechinchar sempre e de tentar não se estressar com alguns vendedores insistentes.
Dentro da Medina, além de andar e se perder pelas vielas, o principal atrativo é o Kasbah, uma cidadela, um complexo fortificado a partir de onde Tânger foi fundada. Localizado na parte alta da Cidade Antiga, o espaço hoje funciona hoje como o Museu do Kasbah, Museu das Culturas Mediterrâneas e Museu de Arte Contemporânea. No local, antigamente ficava o Palácio Dar el Makhzen, construído no século XVII, que foi residência de sultões marroquinos. Paguei apenas 20 dirhams (1,80 euros) no ingresso, e a visita, que não é nada de mais e pode ser rápida, incluiu o pátio interno, jardins, além das salas e objetos em exposição. Logo em frente da Praça do Kasbah fica o portão Bab Bhar. Passando por ele tem um mirante lá no alto, de onde há uma boa vista panorâmica do porto, do Estreito de Gibraltar e, se o dia estiver limpo, também é possível ver a costa da Espanha de longe.
Outros pontos de interesse na Medina são a Grande Mesquita, a Praça Petit Socco, o Museu Tangier American Legation, o Túmulo de Ibn Battouta (viajante explorador que nasceu em Tânger) e o Mercado Central. A principal rua é a Rue de la Marine. No arredores da Medina ficam a Praça Espanha, a bela Praça Continental (em frente ao Hotel Continental), o Terraço Borj al-Hajoui, o Centro de Interpretação das Fortificações de Tânger (um museu a céu aberto nas muralhas) e a torre Borj Dar el-Baroud com seus canhões, a Mesquita Lalla Abla, o Teatro Cervantes, a movimentada Praça Grand Socco (logo em frente do portão Bab Al Fahs) e a Mesquita Sidi Bouabid. Tudo isso fica bem próximo e pode ser visitado em apenas um dia a pé. Saindo da Cidade Antiga, a avenida da praia principal, a Corniche de Tânger com grande calçadão, chamada também de Boulevard Mohamed VI, se estende por 2 km até a Ville Nouvelle, a parte nova da cidade. Neste trajeto, há restaurantes, bares, lojas e shoppings nas proximidades.
Fora desta região central, Tânger tem diversos outros bairros, é uma cidade com 2 milhões de habitantes que se desenvolveu bastante nos últimos anos, há um contraste de algumas áreas de classes baixas com outras bem mais ricas. Mas para o turismo, basicamente existem dois outros lugares mais afastados que valem o deslocamento. Um deles é as Grutas de Hércules, a 14 km do centro, ticket de entrada por 60 dirhams (5,50 euros). Segundo a mitologia grega, foi nessas cavernas à beira-mar que Hércules descansou após ter realizado os seus 12 trabalhos. Perto dali está o Cabo Spartel, lugar onde há um farol que marca exatamente o encontro das águas do Oceano Atlântico com o Mar Mediterrâneo, bom ponto para apreciar o pôr do sol. É possível ver do lado de fora, mas quem quiser pagar o ingresso de 50 dirhams (4,50 euros) tem acesso à área que tem os jardins, o museu marítimo e pode subir no farol. No caminho entre esses dois lugares fica a praia Achakkar, uma das várias praias da região de Tânger para aproveitar bem os dias de sol no verão. Um passeio imperdível que fizemos é Chefchaouen (clique aqui e leia mais), a “Cidade Azul” do Marrocos, que fica a 2h30 a 3 horas de ônibus, e também pode ser feito em tours.
Pela proximidade e por ter muitas influências da Europa, principalmente da Espanha, Tânger é uma cidade mais aberta em relação a outros destinos mais conservadores no Marrocos, inclusive quanto a roupas mais curtas para mulheres. Vale o bom senso e depende do lugar da cidade. Como em outros lugares do país, também é importante estar atento com aproveitadores querendo tirar dinheiro dos turistas, seja taxistas, vendedores ou pessoas oferecendo serviços de guia nas ruas. A segurança não chega a ser um problema grande, mas é bom ficar esperto sempre!
COMER E BEBER:
Na região da Medina e arredores existem vários restaurantes de comidas típicas do Marrocos, como tagine e cuscuz. Pesquisei na internet um lugar desse estilo bem recomendado, e achei o simples e agradável Al Maimouni. Comi um excelente tagine de cordeiro (cozido com legumes), por 110 dirhams (10 euros) o prato individual. Destaque também para o simpático atendimento, ainda ganhamos o tradicional chá de menta no fim. Gostei tanto que repeti o restaurante e o pedido na minha segunda viagem a Tânger. Outro dia, almocei no Kebdani, também seguindo boas recomendações. Desta vez, um tagine de frutos do mar, por 130 dirhams (12 euros), que estava bom, mas um nível abaixo do anterior. Também comemos no Salon Bleu, um lugar com terraço ao ar livre, que fica em frente ao Kasbah, com vista lá do alto da Medina. Além da boa comida, vale pela localização. Pedimos um combo de sete pequenas porções de especialidades árabes, entre salgados e doces, como homus (pasta de grão de bico), salada de tabule, queijo, além de pão pita, que dividimos em duas pessoas, por 130 dirhams (12 euros). Perto dali, com vista para o mar, também fica o Café Hafa, bastante popular entre os turistas.
Bem ao lado da Cidade Antiga, mais precisamente na Praça Espanha, fui duas vezes ao restaurante Diblu, com pratos da cozinha espanhola e frutos do mar. Comi lula grelhada, por 110 dirhams (10 euros), e um steak de carne bovina com batata frita, por 140 dirhams (13 euros), que estavam bem gostosos, mas não eram grandes. Outro ponto positivo para este restaurante é que lá vende cerveja, vinho, etc… Paguei 35 dirhams (3 euros) em uma garrafa longneck de Casablanca, a principal cerveja marroquina. Dentro da Medina, é difícil encontrar bebidas alcoólicas. Mas pegando a avenida da praia em direção à parte nova da cidade, existem boas opções de restaurantes com diferentes tipos de culinária de outros países, além de bares que vendem álcool normalmente e até algumas baladas. Entre eles estão o Tangerino, outro restaurante espanhol, e os bares do Hotel Barceló, um esportivo com TVs transmitindo jogos no térreo, e outro mais arrumado no topo do prédio, com vista panorâmica da praia. Outra área bem próxima com boas opções é a Tanja Marina Bay, a marina de Tânger. Fui ao Chiringuito, um bar com música bem legal, animado e com preços mais altos do que a média local. Ali também fica a 555 Famous Club Tanger, considerada uma das principais boates de noite da cidade.
IMPERDÍVEL:
– Caminhar e se perder pelas ruazinhas da Medina histórica, indo até o alto para ter uma boa vista do mar e do Estreito de Gibraltar.
– Aproveite a mistura de culturas e as influências da Espanha em Tânger para comer bons frutos do mar, além dos pratos marroquinos.
– Vale a pena ir até Chefchaouen, a Cidade Azul do Marrocos, que fica próxima e pode ser conhecida até em um bate-volta de um dia.
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