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KSAR GHILANE e o deserto do SAARA: guia, como ir à Tunísia

Tour pelo Sul da Tunísia, com dunas no deserto, oásis, cachoeiras e vilas berberes
Publicado em:

Quando fui ao deserto do Saara: Julho de 2019

Quanto tempo: 3 dias

Visitar o Deserto do Saara é o objetivo de boa parte dos turistas que viajam à Tunísia, principalmente os mais aventureiros. E não poderia ser diferente, afinal, o maior e mais quente deserto do mundo ocupa quase 40% do território desta nação interessantíssima de cultura árabe muçulmana no Norte da África. É uma experiência incrível! Mas o passeio pelo Sul do país envolve muito mais do que as imensas dunas de areia, incluindo também oásis, cachoeiras, vilas berberes, pequenas cidades, mesquitas e monumentos históricos.

Para conhecer tudo isso, fizemos um tour de três dias e duas noites, em julho de 2019, na mesma viagem em que também estivemos em outros destinos do país, como a capital Túnis e as praias de Djerba. Entre os lugares visitados, vale destacar o Ksar Ghilane, onde dormimos uma noite em tendas ao lado do deserto, o anfiteatro romano de El Jem, a cachoeira de Chebika e povoados onde foram gravados cenas do filme “Star Wars”. Também passamos por Kairouan, Tamerza, Ksar Hadada, Chenini, Matmata, entre outros, e pelas cidades de Tozeur e Douz, que servem como base para explorar essa região.

O Saara compreende 11 países e abrange uma área total de pouco mais de 9 milhões de quilômetros quadrados, sendo que é a partir da Tunísia uma das maneiras mais fáceis de visitar esta maravilha da natureza. É verdade que no Marrocos a facilidade é ainda maior, há mais turistas, melhor estrutura, e, na minha opinião, as dunas lá são mais grandiosas e mais bonitas. Mas isso não quer dizer que não valha a pena ir para o deserto na Tunísia. Muito pelo contrário! A beleza também é grande e a experiência marcante!  Além disso, o baixo custo desses dois países e a proximidade da Europa, com boa oferta de voos, facilita a missão. Ou seja, uma viagem ao deserto que poderia parecer inalcançável há um tempo atrás, hoje cada vez mais faz parte da realidade de muita gente e fica marcada na vida.

FECHANDO O PASSEIO:

Mesmo em 2019, não foi tão fácil assim achar pela internet informações confiáveis para reservar um passeio com antecedência para a região do Deserto do Saara na Tunísia. As poucas coisas que apareciam eram de agências de turismo que cobravam bem mais caro do que o valor adequado. A grande exceção que encontramos foi no site “Tunisia Safari”, da operadora Sahel Voyages, com quem negociamos por e-mail e fechamos tudo. Estávamos em quatro pessoas e pegamos o tour privado de três dias e duas noites, com apenas a gente na caminhonete 4×4 (mais o motorista e o guia), por 155 euros por pessoa. Neste valor, estava incluso hospedagem, transporte e alimentação (café da manhã, almoço e jantar) de todos os dias, apenas as bebidas eram à parte. Atividades extras opcionais, como andar de quadriciclo nas dunas e passeio de camelo, também eram pagos por fora. Vale citar que o guia tinha amplo conhecimento histórico e falava português em um bom nível, além de francês, inglês, espanhol e árabe.

Nosso tour começou em Hammamet, onde estávamos depois de entrarmos na Tunísia de avião por Túnis. Também seria possível iniciar pela capital ou por Sousse. Outra possibilidade que algumas pessoas preferem é ir por conta própria até Tozeur ou Douz, cidades que ficam mais próximas do deserto, e a partir dali contratar passeios que podem ser de apenas um dia ou mais. Como tínhamos tempo limitado, preferimos partir de onde já estávamos hospedados. No fim do tour, ao invés de voltarmos tudo até Hammamet, falamos para a própria agência que queríamos ir para Djerba, então eles arrumaram um transfer que saiu de Matmata (cidade que ficava no caminho) e nos levou até lá, pelo preço total de 100 euros, ou 25 euros para cada um.

Importante alertar que no momento da negociação do passeio é fundamental perguntar quais lugares serão visitados e deixar bem claro as suas preferências, o que gostaria de ver com mais tempo, principalmente se for um tour privado, que pode ser customizado de acordo com os interesses de cada um. Eu digo isso pois, no nosso caso, ficamos menos tempo do que gostaríamos no deserto “de verdade”, nas dunas do Saara, pois acabamos chegando lá só no fim da tarde (segundo o guia, para evitar o forte calor, já que viajamos em julho no auge do verão). Mas o fato é que ninguém nos perguntou se queríamos ou não evitar esse calor, com isso perdemos tempo em outros lugares menos atraentes. Outro exemplo desta situação foi o anfiteatro de El Jem, que o guia falou logo que partimos que não visitaríamos. Nesse caso, no entanto, depois de eu explicar que gostaríamos muito de conhecer, ele mudou a rota e incluiu esse atrativo. Enfim, a dica é negociar sempre e esclarecer todas as dúvidas antes para que tudo aconteça de acordo com as expectativas criadas.

DUAS NOITES DE TOUR:

1º dia – Começamos o nosso tour às 7h da manhã, quando a caminhonete nos buscou no hotel que estávamos hospedados em Hammamet. Partimos nós quatro, o motorista e o guia para a primeira parada, no Anfiteatro de El Jem (depois de negociarmos a inclusão dessa atração na rota, conforme escrevi acima), que se localiza na cidade de mesmo nome, onde chegamos depois de cerca de duas horas de estrada. Também conhecido como Coliseu de Thysdrus, esse anfiteatro romano é o maior da África e o segundo ou terceiro maior do mundo (há controvérsias), menor do que o Coliseu de Roma e talvez que o de Cápua. Fato é que ele é muito bem preservado e um dos principais cartões-postais do país. Pagamos 12 dinars (4 euros) no ingresso e ficamos por lá pouco mais de uma hora, tempo suficiente para as explicações históricas do guia e alguns minutos livres para andarmos pelo lugar, que foi construído no ano de 238 d.C. com capacidade para até 35 mil pessoas. Depois, mais uma hora de trajeto e chegamos em Kairouan, onde fica a Grande Mesquita Sidi Oqba, a maior da Tunísia e mais antiga do Norte da África, local sagrado para os muçulmanos, considerada um modelo para outros templos islâmicos da região. Ali foi jogo rápido. Subimos no alto de uma loja de tapetes e artesanatos para ter uma vista panorâmica, escutamos as informações e partimos novamente. A partir daí tivemos um longo trecho de viagem, que tomou praticamente toda a tarde, sob um calor insuportável de até 46 graus que nem o ar condicionado do carro dava conta. Foram três horas até pararmos para almoçar em Gafsa e mais duas horas até o próximo destino.

Já eram 18h quando chegamos a Tamerza, um grande oásis de montanha quase na fronteira com a Argélia. Primeiro, passamos ao lado da antiga aldeia, que foi abandonada em 1969 por causa de um inundação que causou mortes, e também por um palmeiral verde, que se destaca no meio desta área desértica. Depois, paramos na cachoeira, que fica no meio de um cânion. Foi a primeira decepção em forma de queda d’água do passeio. Muito menor e menos bonita do que parecia nas fotos. Bastaram 20 minutos ali para seguirmos pela estrada mais 15 minutos até o ponto mais esperado do dia: a cachoeira de Chebika. E foi lá a grande frustração. Pequena, com a água turva e muito diferente do que imaginávamos pelas imagens de internet. Foi bem aquela coisa de expectativa versus realidade. Mas se o visual não era tão belo, a experiência foi compensada pela interação que tivemos lá com dezenas de crianças que brincavam naquela hora. Entramos junto na água, viramos atração e nos divertimos com os pequenos tunisianos, o que se tornou um dos momentos mais legais da viagem. Importante relatar que chegamos em Chebika umas 18h30, sendo que o pôr do sol era às 19h30, então a iluminação natural já não era tão forte e as cores do ambiente já não se destacavam tanto como seria um pouco mais cedo. Com eu disse acima, se isso for um motivo de insatisfação para você, vale combinar antes. Após uma hora no local, demos uma breve passada ao lado na vila berber deste oásis no meio da Cordilheira do Atlas e, depois de mais uma hora e pouco dentro da caminhonete, estávamos em Tozeur, cidade onde dormimos. Ficamos no hotel Hafsi, que também estava incluso no preço do tour, com quarto duplo, jantar e uma piscina para se refrescar do calor incessante mesmo durante a noite.

2º dia – Saímos do hotel às 8h30 da manhã e após meia hora, com direito a um rápido off-road com a caminhonete nas dunas de areia, paramos na primeira atração do dia: o local onde foram gravadas cenas de filmes do Star Wars. O minúsculo povoado chamado Ong Jmal, que fica praticamente no meio do nada, tem casas e objetos que fizeram parte do cenário de Guerra nas Estrelas, especificamente das cidades de Mos Espa e Mos Eisley no planeta de Tatooine. O local é preparado para receber turistas, com barraquinhas de souvenirs e uma cena bizarra que chamou a atenção logo que chegamos. Várias crianças literalmente “avançaram” em cima da gente e tentaram colocar nos nossos braços umas raposas-do-deserto (fennec) para tirarmos foto e depois, lógico, eles cobrariam uma grana às custas dos coitados dos animais que estavam em coleiras. Enfim, a visita durou uns 20 minutos. Depois, passamos rapidamente de novo em Tozeur para conhecer o centro da cidade, que tem mesquitas, mercados e boa estrutura turística, e pegamos mais duas horas de estrada. Neste trajeto, fizemos duas breves paradas, uma para ver o Chott el-Jerid, o maior lago de água salgada da Tunísia com 5.000 km2 (que estava seco), e outra em Fatnassa, em umas dunas com formações rochosas (nada de mais). Almoçamos em um hotel na cidade de Douz por volta de 13h30 e o guia falou para esperarmos por lá até 15h30, quando partimos mais uma vez.

Já eram aproximadamente 17h30 quando finalmente chegamos no lugar mais esperado do tour, o grande objetivo do passeio: as dunas do Deserto do Saara, ou mais precisamente no oásis de Ksar Ghilane, que é um pequeno refúgio de famílias nômades localizado a 100km de distância deserto adentro. Ali fizemos a única atividade extra que decidimos pagar: andar de quadriciclo nas dunas pelo valor de 100 dinars ( 32 euros) para cada “quad 4×4” que levava duas pessoas. (Também nos ofereceram passeio de camelo e visita a um palmeiral, mas não fizemos). Dirigimos por uma hora nesta bela paisagem de areia vermelha que forma as dunas do Grande Erg Oriental, passeio que incluiu uma parada nas ruínas de um antigo forte romano e outra para ver o belo pôr do sol, que entrou no ranking Top 10 Pôr do sol do Bora Viajar Agora. Aventura aprovada! Já à noite, jantamos ao ar livre (brik, salada e frango com legumes), bebemos algumas garrafas de vinho que tínhamos comprado em Tozeur (dica válida para quem quiser álcool: compre antes) e nadamos no pequeno lago de águas termais (que era tão quente quanto a temperatura do ambiente). Dormimos dentro de umas tendas com camas que ficavam em uma espécie de camping no Ksar, este oásis com vegetação, algumas construções e até uma certa estrutura. Simples, é verdade, mas tinha uma estrutura. Sinceramente, esperávamos dormir em tendas acampados no meio das dunas, algo mais isolado, assim como aconteceu quando eu fui para o Saara no Marrocos (clique aqui e leia o post), que na minha opinião foi uma experiência melhor. De qualquer forma, apesar de não termos ficado tanto tempo assim no deserto propriamente dito, o Saara tunisiano também tem suas belezas e qualidades, é uma oportunidade diferente de viver outra cultura e foi bem divertido.

3º dia – O último dia de tour começou bem cedo, às 6h da manhã, pois queríamos chegar em Djerba ainda a tempo de aproveitar praia. Com isso, aceleramos as paradas e as explicações do guia nas atrações pelo caminho. Às 7h30 estávamos em Chenini, uma antiga aldeia troglodita berbere, com casas construídas em rochas no alto da montanha e uma mesquita branca que se destaca no topo. Atualmente não há mais moradores no local, mas ele faz parte da rota turística e a visita de uns 40 minutos foi a mais interessante deste dia. De lá fomos para o Ksar Hadada, uma vila fortificada berbere que também serviu de set de filmagem para Star Wars, e depois para Matmata, onde há casas trogloditas subterrâneas antigamente habitadas pelo povo berber. Ficamos só cerca de 20 minutos em cada um desses dois pontos e antes do meio-dia já estávamos almoçando em um hotel na cidade de Matmata. O fim do tour foi ali, e logo partimos com o motorista do transfer que estava nos esperando para irmos à ilha de Djerba, onde chegamos à tarde depois de mais três horas de viagem.

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IMPERDÍVEL:

– As dunas do Deserto do Saara ao lado do Ksar Ghilane, lugar mais esperado do tour, onde ainda dirigimos quadriciclos 4×4 nas montanhas de areia.

– O anfiteatro romano de El Jem, muitas vezes comparado com o Coliseu de Roma, é muito bem preservado e uma parada que vale a pena.

– A cachoeira de Chebika pode até não ser tão bonita como nas fotos, mas a experiência que vivemos ao entrar na água com crianças locais foi bem legal.

QUER SABER MAIS SOBRE O DESERTO DO SAARA ? ACESSE TAMBÉM:

Site oficial da Tunísia

Tiago Lemehttps://www.boraviajaragora.com/
Jornalista, autor do Bora Viajar Agora, atualmente morando em Paris, trabalhando como freelancer. Já visitei 90 países. Os posts escritos neste blog são relatos de minhas viagens, com dicas e informações para ajudar outros viajantes.

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